domingo, 23 de outubro de 2011

Ainda há tempo de gritar

Adaptada à realidade candanga, a famosa poesia A caminho com Maiakovski, de Bertolt Brecht, bem que poderia ser assim

10 do 10 de 2011 às 18:34
Chico Sat’Anna
Na primeira noite, eles invadem a área verde, fincam uma cerca, se apropriam d'área pública, roubam nosso jardim: não dizemos nada.
Na segunda, já não se escondem. Fazem um puxadinho, abrem um bar, instalam garagens, ampliam o gabarito e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles desrespeita o tombamento, ergue prédios de 30 andares, criam uma nova quadra, ignora a condição de patrimônio da humanidade, rouba-nos a qualidade de vida e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.
Creio que é assim que, talvez, muitos brasilienses se sentem ao passar por Águas Claras, cidade projetada inicialmente para ter prédios de no máximo oito andares – dois além do Plano Piloto – e se depara com arranha-céus de até 30 andares.
Assim, podem estar sentindo aqueles que viajam espremidos diariamente nos ônibus de Brasília.

Deve ser assim também a reação de pedestres, ao caminhar pelas quadras das 700, deparando-se com becos sombrios ladeados por gradis utilizados para ampliar "o mar territorial" das residências. No lugar dos gramados públicos, estacionamentos, churrasqueiras, quiosques privados, todos construídos a partir do roubo de áreas públicas.
Conselho de moradores residentes na Asa Norte, onde a democracia, a participação e o espírito comunitário norteia suas ações!